Conteúdo da Hashitag #07

Naoki Otake: Uma arquitetura para comer com os olhos

Naoki Otake
fotos: Rafael Salvador

Dez projetos de restaurantes no portfolio. Sem propriamente dirigir conscientemente sua atividade para o setor, Naoki Otake foi se especializando em projetos para estabelecimentos gourmets por conta do destino. Ou dos ventos, para ser mais xintoísta. E os ventos realmente sopraram a favor. O mercado de alta gastronomia é um dos que mais cresceu nesta última década, e favoreceu a entrada de Naoki neste segmento.

Interior do Nakka
Nakka: Sobriedade e elegância emprestadas da tradição, mas com linguagem contemporânea

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Marcelo Fernandes, o descobridor de talentos, revelou Naoki para o mundo
Primeiro, houve o convite do empresário e restaurateur Marcelo Fernandes, para a criação do novo restaurante Kinoshita, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, em 2007. Na época, Naoki ainda instalava seu retorno ao Brasil, após passar uma longa temporada de cinco anos no Japão, onde até se exilou num templo e imergiu numa vida monástica. A passagem pelo Japão lhe rendeu um banho de arquitetura tradicional, em especial o estilo sukiya, de traços limpos e concisos. Essa experiência foi posta logo em prática no projeto do Kinoshita, com o qual faturou o V Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa, em 2008, e, em 2012, o Prêmio Casa Claudia.

A partir daí, a agenda de Naoki ficou disputadíssima. De 2008 até hoje, foram dez projetos realizados e construídos, somente de restaurantes, sem contar os tantos outros de arquitetura corporativa e residencial. Com o recente Attimo, o estreladíssimo estabelecimento do chef Jefferson Rueda, que propõe uma cozinha afetiva ítalo-caipira, Naoki foi premiado pela prestigiada Wallpaper Design Award como o melhor novo restaurante do mundo. O Clos de Tapas, um espanhol contemporâneo tocado pela jovem chef Ligia Karasawa, foi eleito o restaurante mais bonito de São Paulo pela revista Época. Neste ano, chegou o segundo Prêmio Casa Claudia, com o recém-inaugurado Nakka, no Itaim Bibi.

Exterior do restaurante Kinoshita
Restaurante Kinoshita, o projeto que destacou o arquiteto no mundo dos restaurantes

Naoki abriu a sua concorrida agenda para a revista Hashitag um dia após a premiação no Prêmio Casa Claudia e revelou detalhes interessantes de seu processo de criação.

Hashitag Quais são seus princípios estéticos ao elaborar um projeto?

Naoki Sempre a arquitetura contemporânea. Por arquitetura contemporânea, minha linha de tempo percorre desde Bauhaus até os dias de hoje. É um século de referências arquitetônicas. Nesse período, encaixam-se alguns movimentos que não me dizem respeito, como o pós-modernismo da década de 1980 e a arquitetura neoclássica praticada em São Paulo. Acredito que os preceitos de Bauhaus, Le Corbusier, Mies van der Rohe e o Movimento Modernista brasileiro são atuais ainda hoje. Tudo isso acrescido às minhas referências culturais familiares e à arquitetura japonesa que estudei no período em que morei no Japão. Estes dois mundos, a princípio antagônicos – arquitetura modernista e arquitetura tradicional japonesa –, fazem parte do mesmo mundo estético. Mies van der Rohe e Frank Lloyd Wright beberam da mesma fonte – a arquitetura japonesa –, e dos 5 Pontos da Nova Arquitetura preconizados por Le Corbusier, apenas a laje-jardim não encontra paralelo na arquitetura tradicional japonesa. Não sou nem organicista nem funcionalista/racionalista. Acredito na coexistência em tudo na vida.

Hashitag Quais são os arquitetos que são referência para você?

Naoki Começando por Mies van der Rohe (arquiteto alemão, um dos grandes nomes da Bauhaus) e Philip Johnson (arquiteto norte-americano, um dos pais da arquitetura moderna e o primeiro ganhador do Prêmio Pritzker, o Nobel da arquitetura)  como referências modernas internacionais. No Brasil, a arquitetura dos anos 1960 de Ruy Ohtake e as residências de Oswaldo Bratke. Ainda recém-formado, a arquitetura de Tadao Ando dos anos 1980. Por essas referências, nota-se minha preferência pela arquitetura da simplicidade.

Hashitag Como é o seu método de trabalho? 

Naoki Para cada projeto novo, faço uma pesquisa de imagens e referências e, quando é o caso, estudo sobre o assunto objeto do projeto. Gasto um bom tempo conceituando o projeto antes de iniciar os primeiros estudos. Procuro imaginar o projeto por completo e só então iniciar os desenhos. Muitas vezes, essa conceituação fica só no imaginário, sem desenhos. Quando inicio a fase de desenhos, boa parte do projeto já está definida. Viajar sempre é bom, mas faço isso com menos frequência do que gostaria. O projeto do Kinoshita nasceu a partir do universo estético com que tive contato durante a fase em que vivi no Japão. O projeto do Clos de Tapas, a partir de uma viagem gastronômica que fiz com o Marcelo Fernandes pela Espanha. O Attimo e o Nakka já são resultados de minha última viagem ao Japão, em 2011. Curiosamente, um momento de reflexão importante para mim é a hora do banho. Penso nos projetos, na minha agenda do dia e também me desligo por alguns minutos.

Hashitag O que é mais difícil num projeto de restaurante? 

Naoki Não há o mais difícil. Os problemas técnicos como cozinha, por exemplo, são solucionáveis. O layout também não é um problema. Talvez o mais complexo seja conferir aos ambientes o aconchego e o prazer, sem perder a leveza do desenho. Apesar de praticarmos uma arquitetura sem excessos de decorativismos, é preciso assegurar a cada ambiente uma boa sensação: iluminação natural aos ambientes, iluminação artificial cenográfica para a noite, integração entre o espaço interno e externo, uso de materiais que transmitam conforto, daí o uso de pedras e madeiras, que são materiais naturais. Nossa paleta de cores privilegia os tons de terra e cinzas que são cores visualmente confortáveis.

Hashitag E como é o seu espaço pessoal?

Naoki Meu espaço pessoal é coletivo. O escritório está instalado no meu apartamento, onde encontro condições satisfatórias de vida e trabalho. É um apartamento dos anos 1950, com grandes janelas de madeira, muita luz natural e verde que vem das floreiras que ficam suspensas na fachada. Não divido o que é escritório e o que é privado. Gosto desse espaço único que nem é corporativo e muito menos residencial. A dualidade é presente nos meus trabalhos e na minha vida pessoal.

Roteiro gastronômico

Estes são os restaurantes projetados por Naoki Otake (todos em São Paulo).
Dos dez restaurantes projetados, dois fecharam suas portas. Mas com os oito que estão a pleno vapor, dá até para fazer um roteiro gastronômico.

  • Kinoshita : Rua Rua Jacques Félix, 405 – Vila Nova Conceição – (11) 3849-6940
  • Clos de Tapas: Rua Domingos Fernandes, 548 – Vila Nova Conceição – (11) 3045 2291 ou (11) 3045-2220
  • Mercearia do Francês Higienópolis: Rua Itacolomi, 636 – Higienópolis – (11) 3214 1295
  • La Petite Mercearia do Francês Perdizes: Rua Ministro Ferreira Alves, 282 – Perdizes – (11) 3675 6696
  • Attimo: Rua Diogo Jácome, 341 – Moema – (11) 5054-9999
  • Nakka: Rua Pedroso Alvarenga, 890 – Itaim Bibi – (11) 2594-2577
  • Sushi Toro: Alameda dos Anapurus, 1.430 – Moema – (11) 2386-6966
  • Sushi Deck: Rua Leopoldo Couto Magalhães Jr, 539 – Itaim Bibi – (11) 2538-6550

Para conhecer todos os trabalhos de Naoki Otake acesse sua página: www.naokiotake.com.br

Jo Takahashi Jo Takahashi foi consultor de arte e cultura na Japan Foundation, onde atuou por 25 anos como administrador cultural. Agora, migra essa experiência para a sua produtora independente, a Dô Cultural, que propõe um conceito design de formatar e desenvolver o projeto cultural.
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